A Vila Planalto e a Missão da Unesco

Everaldo Cavazzo 

Originada pelos acampamentos de operários que construíram a Capital Federal, a Vila Planalto  de ruas estreitas, jeito e costumes interioranos, ainda mantém o clima tranquilo e pacato, apesar do inchaço populacional dentro de sua poligonal de tombamento e no seu entorno - setor hotéis e turismo.

Símbolo da resistência dos pioneiros operários, a Vila resistiu a todo período da Ditadura Militar e à ideia de transferência das famílias para outras localidades.

Em 21 de abril de 1988, foi fixada e tombada como Patrimônio Histórico do Distrito Federal. No entanto, e desde essa data, a Vila nunca recebeu nenhum programa ou projeto específico de preservação, nem investimentos para sua preservação por parte do poder público.

Minha participação enquanto agente político

Enquanto agente político e defensor da Vila Planalto enquanto Patrimônio Tombado, estive à frente da Subadministração da cidade entre 1997/1998 (governo Cristovam), quando assumimos o papel defensor daquela comunidade preservando seu acervo e impedindo sua descaracterização. Restauramos a casa histórica conhecida como AMPARE, e não permitimos a construção de imóveis com dois pavimentos. A Vila preservava as suas características. Gostaríamos de ter feito muito mais, no entanto o tempo curto e a falta de recursos nos imobilizou.

Como não bastasse, no ano seguinte ao término de nossa gestão,  um incêndio criminoso colocou ao chão aquele que talvez fosse nosso maior monumento: a Igreja Nossa Senhora de Rosário e Pompéia, incendiada num  domingo de carnaval do 2000 - coincidentemente, a mesma data do episódio conhecido como " Massacre da Pacheco Fernandes" em 1959, parece ter definido os novos rumos daquela cidade. A política adotada pelos dois governos subsequêntes, Arruda e Roriz, de omissão e compactuação, destinaram a Vila Planalto ao campo da especulação imobiliária. A pequena cidade pacata e tombada, se transformou, ao longo da última década, numa região de moradias verticalizadas, casas com dois ou, lamentavelmente, três pavimentos, com uma inversão de valores: ali não mais importava o tombamento e sim o espaço que serviria de lucro para aqueles que não conseguem enxergar à frente de sua comodidade.

Nossa comunidade, no entanto não se esquivou à luta da presevação de nossa cidade, nossa história. Nos empenhamos na luta da reconstrução da igrejinha nos seus moldes originais - madeira - contra toda uma gestão de governo 'mercadológico' e sem convicção. Nossos manifestos lograram apoio de uma bancada importante na Câmara Legislativa (opositora ao governo), que proporcionou a vitória não àquele grupo de defensores da Vila Planalto, mas sim a todoa a sociedade brasiliense.

Na contra mão da última década, o governo Agnelo tem desenvolvido, por meio da SEDHAB, o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília - PPCUB, o qual a Vila Planalto está  circunscricionada e na área de abraangência. O governo define o PPCUB como um instrumento central da política de preservação, onde se propõe à restauração e revitalização do patrimônio tombado, no entanto ainda é de extrema necesidade o empenho dos órgãos fiscalizadores, já que as 'obras inacabadas' que ferem o padrão da cidade continuam a todo vapor.  Tanto a AGEFIS quanto a Administração de Brasília ainda não conseguiram uma política de acompanhamento e inibição da especulação imobiliária na Vila. Além disso, a atual Administração de Brasília, ignora aquele espaço, como se ele não pertencensse à mesma área tombada que toda a cidade de Brasília. Enquanto governo e fiscalização não se entendem, a sangria da descaracterização da Vila Planalto traça um caminho, talvez sem volta.

A missão

A Unesco e o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), chega para avaliar o estado de conservação do sítio inscrito na lista do patrimônio mundial (Brasília) e a Vila Planalto será uma das localidades a ser visitada.  É importante que o conselho saiba que a Vila ainda preserva parte do seu acervo histórico, mesmo sem manutenção e sem nenhum tipo de intervenção estatal. A Igreja, as 5 casas históricas, o antigo colégio, o campo do DEFELÊ, o arruamento entre outros, são exemplos de que ainda há tempo de se construir uma política de recuperação, inserida sim nos moldes de uma nova Brasília, amplamente madura e desenvolvida, com vistas à inserção da Vila Planalto no círculo 'econômico' do turismo gastronômico - a principal atividade geradora de renda de reconhecimento instituído daquela cidade, porém sem deixar de lado seu maior legado: o Tombamento como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.

Brasília, 12 de março de 2012.

Everaldo Cavazzo

Coordenação do Fórum Democrático dos Moradore e Entidades da Vila Planalto